sexta-feira, 4 de junho de 2021

Crônica: "Vocação", Rita de Cassia Vasconcelos

 Vocação

Recentemente tive contato com 3 gêneros textuais que me fizeram refletir _ mas já aviso: sem chegar a uma conclusão definitiva _ sobre vocação.

O primeiro gênero foi um filme: Soul, da Disney Pixar, em quem, desculpe o spoiler, a “moral da história” é que a verdadeira vocação, pelo menos daquele personagem, era viver a vida saboreando cada momento, e não passar a vida toda tentando encontrar qual é sua função social ou profissional no mundo.

O segundo gênero textual que me remeteu à questão da vocação foi um roteiro pedagógico para o desenvolvimento de atividades escolares sobre “Projeto de vida”. O objetivo era iniciar junto aos alunos da minha escola, uma reflexão do tipo “o que você quer ser quando crescer?”.

E o terceiro texto que continuou martelando essa tal de vocação na minha cabeça foi a crônica de Clarice Lispector, “As Três experiências”, que me despertou admiração misturada com inveja, pois a autora demonstra brilhantemente e com muita segurança que sabia exatamente para que ela nasceu: amar, escrever e ser mãe.

Com isso eu estou aqui tentando concluir de forma inspiradora essa mal traçada crônica, de forma que meu texto inspire jovens a encontrarem sua vocação. O primeiro problema é que eu não sou nem de longe a Clarice Lispector! Embora seja uma professora de Língua Portuguesa e tenha, de fato, tal qual Clarice, “o domínio da língua”, eu não tenho o talento dela. Quem me dera... Porque assim eu poderia dizer que também nasci para ser mãe e para escrever.

O segundo problema é que minha ferrenha e impiedosa autocrítica não deixa eu dizer que minhas VOCAÇÕES são ser mãe e escritora, porque isso significaria dizer que eu faço essas duas coisas muito que muito bem feitas. Só que não... Infelizmente... Principalmente quanto a ser mãe.

Não que eu seja uma mãe ruim. Claro que não. Mas é que eu não sei se eu sei bem o que estou fazendo. Todos os dias eu estou aprendendo a ser mãe. Todos os dias eu tento fazer uma autoavaliação, pesquisar, encontrar outras metodologias, outras estratégias, replanejar, me reinventar. Às vezes funcionada, dá certo... Às vezes não... E lá vou eu replanejar novamente.

Até pouco tempo, eu acreditava e dizia que minha vocação era ser professora, mas esses “tempos de pandemia” impossibilitaram a realização de aulas presenciais, as quais eu dominava, e consequentemente comprometeram o aprendizado dos alunos, me fazendo questionar se realmente essa é minha vocação: ser professora. Porém, mesmo insatisfeita e agoniada de saber que meus alunos não estão aprendendo como eu gostaria, como eles mereciam, eu continuo avaliando minhas práticas, pesquisando tentando encontrar outras metodologias, ferramentas, estratégias, replanejando, me reinventando.

Aí eu pensei: (estou pensando nisso agora enquanto crio essa crônica) se até para ser mãe eu ajo como professora, me autoavaliando, (sou minha pior aluna), pesquisando, encontrando outras metodologias, outras estratégias, replanejando, errando, acertando, me reinventando, dando o meu melhor para que o outro consiga atingir seu melhor também, então parece que essa é mesmo minha vocação: eu sou professora, professora dos meus alunos, professora da minha amada filha, professora das pessoas que amo, professora de mim mesma.

Vocação vem do latim “vocatio” que significa “um chamamento”. Portanto, podemos entender a vocação como aquela voz que nos chama, que sempre fala mais alto na nossa cabeça. No meu caso é a voz da “Dona Rita”, a professora de Língua Portuguesa.

E para você que está lendo esse texto, e que eu espero humildemente inspirar de algum modo: Qual é a voz que te chama e te guia?

 

Rita Vasconcelos

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