quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Nasci para te conhecer e te chamar, Liberdade"



 

Li na revista Língua Portuguesa na seção Versão Brasileira, que trata de questões sobre tradução, um artigo que falava sobre o poema “Liberté” de Paulo Éluard e trazia algumas versões feitas por escritores brasileiros desse poema originalmente escrito em francês.

A seguir um trecho retirado do artigo e a versão do poema feita po Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira

 

“Há 70 anos, em plena guerra mundial, nascia um canto à liberdade, o famoso poema Liberte, de Paulo Éluard (1895-1952). Com o título provisório Une seule penseé, foi contrabandeado pelo pintor pernambucano Cícero Dias para a Inglaterra e lançado na forma de panfleto por aviões aluados sobre a França ocupada e outros países.

Traduzido para diversos idiomas (e várias vezes em muitos deles por diferentes tradutores), alimentou de poesia e coragem a resistência ao nazismo e ao fascismo, Suas 21 estrofes, lidas relidas e decoradas no mundo inteiro, expressaram o repúdio a todo sistema opressor ao longo do século passado.

Este poema consagrou Éluard como um clássico da literatura francesa. Participante do movimento surrealista, tornou-se ele, para além das experiências em torno do inconsciente e do onírico, um poeta dos grandes temas de todos os tempo: o amor, a morte, a paz, a ânsia de viver... e de ser livre.” PERISSÉ, Gabriel. Para traduzir em liberdade. Língua Portuguesa, São Paulo, ano 8, no 85, 54-55, nov., 2012.

Encantei-me pela beleza do poema, mas o artigo só trazia as últimas 7 estrofes, então procurei a versão completa feita por Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira e agora estou compartilhando com vocês.

 

Liberté
 
Nos meus cadernos de escola
Nesta carteira nas árvores
Nas areias e na neve
Escrevo teu nome

Em toda página lida
Em toda página branca
Pedra sangue papel cinza
Escrevo teu nome
Nas imagens redouradas
Na armadura dos guerreiros
E na coroa dos reis
Escrevo teu nome

Nas jungles e no deserto
Nos ninhos e nas giestas
No céu da minha infância
Escrevo teu nome
Nas maravilhas das noites
No pão branco da alvorada
Nas estações enlaçadas
Escrevo teu nome

Nos meus farrapos de azul
No tanque sol que mofou
No lago lua vivendo
Escrevo teu nome
Nas campinas do horizonte
Nas asas dos passarinhos
E no moinho das sombras
Escrevo teu nome
Em cada sopro de aurora
Na água do mar nos navios
Na serrania demente
Escrevo teu nome

Até na espuma das nuvens
No suor das tempestades
Na chuva insípida e espessa
Escrevo teu nome
Nas formas resplandecentes
Nos sinos das sete cores
E na física verdade
Escrevo teu nome
Nas veredas acordadas
E nos caminhos abertos
Nas praças que regurgitam
Escrevo teu nome
Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Em minhas casas reunidas
Escrevo teu nome

No fruto partido em dois
de meu espelho e meu quarto
Na cama concha vazia
Escrevo teu nome
Em meu cão guloso e meigo
Em suas orelhas fitas
Em sua pata canhestra
Escrevo teu nome
No trampolim desta porta
Nos objetos familiares
Na língua do fogo puro
Escrevo teu nome
Em toda carne possuída
Na fronte de meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo teu nome

Na vidraça das surpresas
Nos lábios que estão atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo teu nome
Em meus refúgios destruídos
Em meus faróis desabados
Nas paredes do meu tédio
Escrevo teu nome
Na ausência sem mais desejos
Na solidão despojada
E nas escadas da morte
Escrevo teu nome
Na saúde recobrada
No perigo dissipado
Na esperança sem memórias
Escrevo teu nome

E ao poder de uma palavra
Recomeço minha vida
Nasci pra te conhecer
E te chamar

Liberdade


Paul Éluard - Tradução: Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira

2 comentários:

  1. Que poema lindo!! Nunca o tinha lido. Gostei bastante. A forma como você organizou ficou bem legal. Parabéns!!
    :)

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  2. Eu também não conhecia. Li um trecho em uma revista que ganhei do diretor da minha escola, achei lindo e busquei o poema completo na internet.
    Mensagem inspiradora!

    Obrigada por prestigiar o meu blog. Fique sempre a vontade.
    Abraços.

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