Preconceito linguístico
“Lascou-se miséra”; “Seu amarelo mentiroso”; “…tá aqui a gaita que Padim Ciço mandou lhe dar”; “Valha minha nossa senhora”, são trechos de "Auto da Compadecida, do autor Ariano Suassuna, expoente da Geração de 45, fase do Modernismo que teve como uma de suas características a representação das variedades linguísticas de diferentes regiões do Brasil. Mas se nas obras de ficção da Geração de 45 essas variações linguísticas são valorizadas como partes inerentes à formação da identidade e da cultura dos personagens, na realidade esses modos de falar muitas vezes reforçam estereótipos e preconceitos, levando à discriminação e ao aumento das desigualdades.
A depender da maneira de falar de uma pessoa será fácil identificar de qual região ela vem e isso não é um problema. Entretanto, quando determinadas variações linguísticas são associadas a ideias negativas como baixo nível de escolaridade, criminalidade, falta de seriedade, falta de conhecimento, ignorância, pobreza, ingenuidade, etc.; enquanto outras são vistas com mais prestígio e são relacionadas a cultura, status, erudição, alto nível de conhecimento, condição financeira, credibilidade, autoridade, etc. formam-se as condições propícias para o preconceito linguístico. Esse preconceito tem como consequência, o aumento das desigualdades sociais, pois determinados grupos de pessoas são discriminados no mercado de trabalho por seu modo de falar, ficando restritos a subempregos, o que dificulta a mobilidade social. Além disso muitas pessoas são ridicularizadas e inferiorizadas pelo seu modo de falar, e seus discursos, suas ideias e opiniões acabam sendo descredibilizados, impossibilitando que usem a comunicação em prol da luta para ter suas demandas atendidas.
A questão se agrava, quando as mídias de massa acabam reforçando certos estereótipos em produtos culturais como filmes, novelas, esquetes humorísticas no youtube, campanhas publicitárias, etc. Perpetuando ideias que prestigiam certas formas de falar e ridicularizam, inferiorizam ou atribuem uma imagem negativa a variações linguísticas usadas por determinados grupos.
Portanto, medidas são necessárias para solucionar esse problema. As redes de televisão, as produtoras de cinema, as agências publicitárias e os grandes canais do youtube devem se unir para formular uma grande campanha que vise exaltar e valorizar as variações linguísticas como partes integrantes da cultura e da identidade nacional.
Rita de Cássia Vasconcelos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário