quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Resumo: Realismo e Naturalismo

 REALISMO E NATURALISMO

 

Visão geral

 

Motivados pelas teorias científicas e filosóficas da segunda metade do século XIX, os escritores realistas se empenharam em combater a idealização da literatura romântica, retratando, descrevendo e analisando o homem e a sociedade de forma crítica e mais próxima da realidade, desse modo, era preciso mostrar o cotidiano massacrante, as desigualdades sociais, as tensões entre burguesia e proletariado, o casamento por interesse, o adultério, a falsidade, o egoísmo, a impotência do ser humano comum diante dos poderosos. Nesse contexto, o Realismo é arte das temáticas sociais.

 

Contexto histórico

 

A segunda metade do século XIX caracterizou-se pela consolidação do poder da burguesia e o crescimento da classe operária (proletariado).

 

Nesse período, aconteceu a 2ª Revolução Industrial. A utilização de novas fontes de energia (vapor, petróleo, gás, eletricidade) ocasionou o avanço da industrialização e o crescimento das cidades. O avanço do transporte ferroviário e marítimo, e a expansão da comunicação telegráfica são dessa época. A burguesia prosperava e lutava por mais dinheiro e poder.

 

Mas no extremo oposto desse progresso havia o aumento da desigualdade social e dos bairros pobres onde residiam os operários e suas famílias. O proletariado vivia em condições miseráveis e, para manifestar sua insatisfação com a situação, começava a organizar sindicatos e greves.

 

Paralelo a esse cenário, a ciência também se desenvolvia, muito em função de descobertas que beneficiassem a indústria, mas também em áreas ligadas à vida humana. A energia elétrica, a conservação de alimentos, a utilização do éter como anestésico, a descoberta dos microorganismos causadores da sífilis, malária e tuberculose, são algumas das conquistas científicas da época.

 

Cientificismo


Alguns dos pensamentos científicos que influenciaram a produção literária Realista e Naturalista são:


  • Positivismo: o único conhecimento válido é o positivo, isto é, o conhecimento das ciências, proveniente da observação do mundo físico. Criado por Auguste Comte. Na literatura, esse pensamento se traduz na busca do autor em descrever as cenas e personagens, física e psicologicamente, de forma detalhada e objetiva, como se os observasse como um cientista.

 

  • Darwinismo ou Evolucionismo: a natureza seleciona as variações de seres vivos que estão mais aptas a sobreviver e procriar. Criado por Charles Darwin. Nas narrativas, essa ideia aparece através das tensões e conflitos entre os personagens, retratando que os vencedores são aqueles que têm os recursos ou habilidades (físicos, psicológicos, sociais ou materiais) para se sobrepor sobre os “mais fracos”.

 

  • Determinismo: o comportamento humano é determinado por três aspectos básicos: o meio, a raça e o momento histórico. Nos romances realistas e principalmente nos naturalistas, essa visão de mundo se manifesta na criação de personagens que estão fadados, condenados a vivenciar certos conflitos devido às suas origens, classes sociais, lugares ou época em que vivem, sem que tenham nenhuma condição de conduzir ou transformar suas vidas a partir de suas próprias escolhas.


Influências europeias


O Realismo teve início com a publicação de Madame Bovary (1857), de Gustave Flaubert; e o Naturalismo, com a publicação de Thérèse Raquin, de Émile Zola. Em Portugal, o principal influenciador foi Eça de Queirós, autor de obras como O primo Basílio e O crime do padre Amaro.

 

Realismo x Romantismo

 

Numa sociedade fortemente influenciada pelo desenvolvimento científico, que acontecia a pleno vapor, não havia mais espaço para idealização, sentimentalismo e fuga para o passado. Agora era a vez do materialismo e do racionalismo guiarem a análise e a compreensão da sociedade e, consequentemente, a produção literária.

 

Realismo e Romantismo se opunham fortemente. Enquanto o Romantismo era a expressão do eu, da subjetividade, onde as descrições eram feitas de forma idealizada, criando seres e elementos perfeitos; no Realismo imperava o objetivismo, portanto as descrições detalhadas mostravam o ser como ele realmente é, enfatizando seus defeitos.

 

No Romantismo:

  • a mulher é um anjo, puro e perfeito;

  • o amor é intenso, verdadeiro e acima de interesses mundanos;

  • o casamento é a concretização sublime desse amor idealizado;

  • e o herói tem um caráter irretocável.

 

Já no Realismo:

  • a mulher é mostrada com qualidades e defeitos;

  • o amor se curva aos interesses materiais;

  • o casamento é uma instituição falida e hipócrita, é um mero contrato de interesses;

  • e o herói é problemático, cheio de defeitos e incertezas.


No Romantismo a linguagem é mais metafórica e poética, e as narrativas são mais ágeis, têm mais ação, reviravoltas, aventuras. Já no Realismo, a linguagem é mais direta, e as narrativas são mais lentas, porque o objetivo é analisar, explicar, justificar as ações dos personagens.

 

Realismo x Naturalismo

Realismo e Naturalismo são duas tendências ou modas artístico-literárias que vigoraram na mesma época e sofreram as mesmas influências históricas. Ambas procuravam representar o homem e a sociedade como realmente são: imperfeitos e cheios de defeitos, mas se concretizaram em obras que apresentam algumas diferenças.

As obras naturalistas podem ser chamadas de romances de tese, pois tentam criar narrativas ficcionais que serviriam como exemplo para correntes de pensamento científico-filosóficos, principalmente o Determinismo. Dessa forma, o autor direciona seu olhar para a sociedade como se fosse um cientista que analisa ratos em um laboratório, com isso, por vezes, acontece a zoomorfização: uma figura de linguagem que descreve o comportamento humano como de um animal

Assim como o Realismo, o Naturalismo também tem compromisso com a criação de tipos próximos à realidade, mas há uma preferência por personagens patológicos, mórbidos, adúlteros, psiquicamente desequilibrados, assassinos, violentos, bêbados, miseráveis, prostitutas, etc. As obras revelam as misérias, a pobreza, a violência que as classes menos favorecidas vivenciam, e como são incapazes de vencer as desigualdades e a força dos poderosos.


Outra característica marcante do Naturalismo é a maneira como o sexo aparece nas narrativas: sempre de forma vulgar, explícita, promíscua, animalesca.


O principal autor do Naturalismo brasileiro é Aluísio Azevedo, que escreveu os romances O Cortiço, Casa de pensão, O Mulato, dentre outros.


O Realismo busca criar o retrato fiel do cotidiano de personagens inspirados em tipos comuns, concretos, não-idealizados, mas além de retratar, procura interpretar o caráter e as motivações dos personagens, em uma abordagem mais psicológica. Os personagens costumam representar aspectos negativos da sociedade: o avarento, o covarde, o ambicioso, o interesseiro, o corrupto, a adúltera, etc. Sendo assim, há uma forte crítica à sociedade, em especial, à burguesia.


O principal autor do Realismo brasileiro é Machado de Assis, que escreveu os romances Memórias de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, dentre outros.

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