quarta-feira, 19 de março de 2014

Plano de aula: A influência do contexto histórico na produção cultural


Plano de aula
Rita Vasconcelos Língua Portuguesa
Turmas: 2º ano ensino médio Duração: 6 aulas
Tema: A influência do contexto histórico na produção cultural



 Justificativa: Para ser considerado um leitor proficiente, o aluno precisa ser capaz de compreender textos de diferentes gêneros de forma crítica e autônoma. Mas um dos fatores que interferem no sentido de um texto é o contexto de produção que inclui, dentre outros elementos, o contexto histórico. Esse plano de aula tem como objetivo levar o aluno a compreender a importância do contexto histórico para a compreensão e interpretação do texto. Esse projeto facilitará os trabalhos seguintes relativos ao estudo das “Escolas Literárias” ou “Estilos de Época”, uma vez que o aluno já terá consciência de que o contexto histórico influencia na criação das obras.
Objetivos:
Interpretar letras de músicas identificando marcas linguísticas que evidenciam o contexto histórico em que foram produzidas.
Analisar comparativa e intertextualmente, e identificar posicionamentos ideológicos diferentes em letras de música produzidos num mesmo contexto histórico.
Reconhecer que o contexto histórico interfere na produção cultural. Neste
projeto o enfoque será o contexto histórico dentro de letras de música dos
períodos de Ditadura Militar e início da redemocratização do Brasil.
Interpretar letras de músicas populares brasileiras que fazem crítica social, relacionando seu conteúdo ao contexto histórico da atualidade.

Recursos:
Cópias das letras das músicas.
Som e pendrive.
Quadro e pincel.
Avaliação: 
Participação durante as atividades de interpretação e correção. 
Práticas: 
Atividade 1: O contexto histórico na música “Solange”, de Leo Jaime, Sting Leoni (1985)

Observação 1:
Num poema, o emissor/locutor, ou seja, quem fala é uma figura denominada “eu-lírico”, e essa figura não é necessariamente o autor do texto, na verdade trata-se de uma “voz” que emite determinada mensagem.

Análise coletiva e oral da música:
1. Imagine que a letra dessa música é uma carta. Quem a escreveu? Para quem ela foi escrita?
2. Qual é o tipo de relação entre esse emissor e o destinatário?                 
3. O conteúdo dessa carta/música é positivo ou negativo?                          
4. Como você descreveria o tema dessa carta/música em poucas palavras?   
5. Quais as queixas que o emissor da carta/música faz contra o destinatário?
6. O que você acha que quer dizer o trecho a seguir?    “Você é bem capaz de achar/Que o que eu mais gosto de fazer/;Talvez só dê pra liberar/Com cortes pra depois do altar” 
7. O que você acha que quer dizer a expressão "censolange"?

Interpretação escrita da música. Parte I:  
1. Considerando a letra da música “Solange” como um poema, trace um perfil
do “eu-lírico”:
a. Quem ele é?
b. Para quem ele fala?
c. Para quê ele fala?

Observação 2:
Toda a análise que fizemos até o momento sobre a letra dessa música não está correta se
considerarmos o contexto em que ela foi produzida. Ou seja, as verdadeiras intenções dessa
música só podem ser compreendidas quando passamos a ter conhecimento sobre quem a
escreveu, para quem ela foi escrita, quando e por que ela foi feita.
Essa música foi composta em 1985, ano em que ocorreu o fim do período de ditadura no
Brasil. Em 1964 comandantes das forças armadas deram um golpe militar, expulsando o
então presidente João Goulart, e assumindo o controle do país sem que houvesse eleição, ou
participação do povo na decisão.
A partir disso, militares de alta patente se revezaram no poder, governando o país com rigidez
e arbitrariedade. Quando o povo se manifestava e se revoltava contra o militarismo, o governo
reprimia com força bruta, chegando a prender as pessoas, torturá-las e até matá-las.
Os meios de comunicação como TV, rádios e jornais não podiam publicar nada que fosse
contra os interesses da ditadura. Por isso criou-se órgãos destinados a analisar os conteúdos
de textos, programas, músicas, etc., e censurá-los, barrá-los caso falassem contra o governo.
Para driblar essa censura, muitos artistas criavam músicas com dupla interpretação para que
não fossem barradas pela censura.
Já no final do período militar (1981), quem comandava a Divisão de Censura e Diversões
Públicas, órgão responsável pela censura, era Solange Hernandes, que chegou a ser
chamada de “Solange tesourinha” por ter desaprovado 2.517 letras de música, 173 filmes
inteiros, 42 peças de teatro e 87 capítulos de novelas.
Quando a ditadura acabou, e o Brasil voltou a ser governado por um presidente eleito (José
Sarney), a censura perdeu o seu sentido e então o cantor e compositor Leo Jaime decidiu
criar essa música como forma de se “vingar” da censora linha dura “Solange”, e de certa
forma, de todos os outros censores.
Interpretação escrita da música. Parte II: 

1. Considerando agora o contexto de produção da música, trace um perfil do

“eu-lírico”:
a. Quem ele é?
b. Para quem ele fala?
c. Para quê ele fala?
2. Retire da música as palavras ou expressões que remetem, ou seja, que fazem lembrar da censura.
3. Considerando que conteúdos eróticos ou pornográficos eram sempre
vetados pelos órgãos de censura, o que você acha que quer dizer com o trecho
a seguir?
“Você é bem capaz de achar/Que o que eu mais gosto de fazer/Talvez só dê pra liberar/Com cortes pra depois do altar”
4. O que você acha que quer dizer a expressão “censolange”?

Conclusão: Para entender certas produções textuais é imprescindível conhecer o contexto histórico em que elas foram produzidas.


Atividade 2: Um mesmo contexto histórico – Duas ideologias. Análise comparativa das músicas “Alegria Alegria”, de Caetano Veloso, e “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré. (1967)
Interpretação
1. As duas músicas foram compostas em 1967, quando o Brasil vivia sob um regime militar.
a. De que forma a canção “Alegria, Alegria” descreve o mundo nessa época?
b. De que forma a canção “Pra não dizer que não falei das flores” descreve o mundo nessa época?
2. Nas duas músicas o “eu-lírico” mostra como ele acredita que as pessoas deveriam agir diante do contexto em que viviam.
a. Segundo a canção “Alegria, Alegria”, de que forma as pessoas deveriam agir diante daquele mundo?
b. Segundo a canção “Pra não dizer que não falei das flores”, de que forma as pessoas deveriam agir diante daquele mundo?

Conclusão: Um mesmo contexto histórico pode influenciar de formas diferentes a produção cultural.

Atividade 3: O contexto histórico na música “Uma vida só (Pare de tomar a pílula)”, de Odair José (1973). Algo simples vira polêmica

Interpretação
1. De que “pílula” a letra da música está falando e o que levou você a concluir isso?

Observação: Essa música foi composta em 1973, ano em que o Brasil vivia a ditadura; os movimentos de contra-cultura como os “Hippies” viviam o seu auge e pregavam a liberdade sexual; e o feminismo lutava pela igualdade de gêneros. Nesse período, o governo militar controlava as mídias através de órgãos de censura. A pesar de ser uma música simples e tida como “brega”, “Pare de tomar a pílula” se tornou um grande sucesso em todo o Brasil e gerou muita polêmica, chegando a ser censurada. 

2. Refletindo sobre o contexto histórico em que a canção foi produzida, tente explicar as posições dos grupos a seguir com relação à música “Pare de tomar a pílula”.
a. Governo militar era contra e a censurou:
b. A igreja católica era contra:
c. Mulheres eram contra:
d. Homens eram a favor:            

Conclusão: A reação do público diante de determinada produção cultural vai depender do momento histórico vivido.

Atividade 4: O contexto histórico na música “Veraneio vascaína”, de Renato Russo e Flávio Lemos (1986).

Interpretação:
1. A música faz uma crítica a uma categoria de profissionais. Que profissionais são esses?
2. Explique por que a música se chama “Veraneio vascaína”.
3. Segundo a música, o que leva o “pobre” a querer se tornar policial?
3. Qual a visão da música sobre essa categoria de profissionais?
4. Essa música foi composta em 1986. Se ela tivesse sido escrita em 1984, o que teria acontecido com ela e por quê considerando o contexto histórico?

Conclusão geral: O contexto histórico interfere na produção cultural, portanto é importante reconhecê-lo para que se possa compreender e interpretar adequadamente determinados textos.
Nas próximas aulas iremos estudar os diversos contextos históricos que influenciaram a produção da Literatura no Brasil. Esses contextos históricos deram origem às chamadas “Escolas Literárias” como, por exemplo, o Quinhentismo, o Barroco e o Arcadismo, que serão objeto dos nossos próximos estudos.



Trabalho – Língua Portuguesa – Grupos de 5 pessoas.
Valor: 2,0 pontos.              Entrega: ___/___/___

Objetivo: Interpretar letras de músicas populares brasileiras relacionando-as ao contexto histórico, político, social da atualidade.

Escolher uma letra de música popular brasileira de qualquer estilo desde que siga todos os seguintes quesitos:
·         Não contenha palavras de baixo calão.
·         Seu conteúdo faça uma crítica a algum setor ou questão da sociedade moderna.

Apresentação escrita
·         Um cartaz com a letra da música.
·         Um texto de no mínimo 30 linhas (à mão, em folha sulfite) descrevendo, explicando a crítica feita na música, relacionando esse conteúdo à atualidade.

Apresentação oral:
·         Apresentar a música:  cantar ou trazer em pendrive para reprodução.
·         Explicar a música, descrevendo, explicando a crítica feita na letra, relacionando esse conteúdo à atualidade.
·         Todos os integrantes do grupo devem falar.

Critérios de avaliação:

Parte escrita: Correção ortográfica e gramatical. Estética. Interpretação consistente e bem fundamentada da letra da música. Autoria do texto.

Apresentação oral: Tom de voz adequado. Organização e eloquência. Domínio do conteúdo. Participação de todos os integrantes.

Sugestão de músicos: Pitty. Emicida. Legião Urbana. Capital Inicial. Gabriel, o Pensador. Titãs. Paralamas do sucesso. Raul Seixas. Charlie Brown. Leoni. Ultraje a rigor. RPM. Cazuza. O Rappa. Skank. Engenheiros do Hawai. Detonautas. Seu Jorge, etc.



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