terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Artigo de opinião: Ironicamente gay - Karina Farnesi


 Eu estava conversando pelo Facebook com uma aluna e nós falavamos sobre a dificuldade que a escola enfrenta em motivar os alunos a produzirem textos. Concluimos que seria mais fácil se os jovens pudessem escrever sobre aquilo que lhes interessa. Então propus a ela que escrevesse um texto sobre um tema de seu interesse para que eu postasse aqui no blog.
E é com os três pensamentos sobre revolução a seguir que introduzo o riquíssimo texto da minha aluna Karina Lorena.

"Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética." Che Guevara. 
"O descontentamento é o primeiro passo na evolução de um homem ou de uma nação." Oscar Wilde
"Palavra puxa palavra, uma idéia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução." Machado de Assis

Ironicamente Gay

Está meio que virando rotina ver textos sobre preconceito e respeito por aí, né? Mas uma das coisas que eu mais acho engraçado é como a gente passa todos os dias do ano, falando sobre: preconceito, mudança, respeito e igualdade, mas na prática ficamos devendo.
 Com certeza você já julgou alguém pela aparência, já praticou bullying, já falou mal de alguém e certamente você tem preconceito com alguma coisa. Só que tem várias coisas que a gente não precisa sair fazendo, muito menos dizendo.
Palavras por mais simples que sejam têm um poder imenso. Você pode fingir que não liga, que não se importa, mas sabe que por dentro tudo isso machuca.
Hoje em dia as pessoas estão indo muito pela cabeça dos outros, muito difícil achar pessoas com opiniões próprias e de pensamento forte. Está meio que assim: Se você é gay, é pecado. Se você é bissexual, é confuso. Se você é muito magro, usa drogas. Se você é gordo, come demais. Se você anda bem vestido, é riquinho. Se você diz o que pensa, é grosso. Se você não diz o que pensa, é falso. Se você chora, é um dramático. Se ela tem muitos amigos homens, é biscate. Se ele tem muitas amigas mulheres, é gay.
Eu acho que a gente podia, pelo menos, fazer um esforço e tentar viver num mundo sem rótulos, sem julgamento, sem discriminação. O mundo hoje em dia não te dá liberdade pra fazer suas próprias escolhas, acham que você tem que ser perfeito e que tem que sorrir 24 hora por dia.
Além disso, as pessoas estão tao egoístas ao ponto de querer se dar bem encima dos outros.  A sociedade julga ser pecado a pessoa ser homossexual, ateu, andrógeno, bissexual, mas não julga ser pecado  o racismo e a homofobia.
Quando as pessoas vão entender que você não escolhe ser homossexual, você já nasce assim? Acha que uma pessoa iria escolher ser uma coisa que causa revolta nas pessoas, escolher ser vítima de preconceito e, acima de tudo, podendo não ser aceita pela família? Acho que não, né?
Então vamos aprender a respeitar a opção de cada um. Você não precisa gostar nem fazer o mesmo, só tem que calar a boca e respeitar. Homossexualidade não é uma coisa pra ser entendida. Homossexualidade não é doença. Amar alguém do mesmo sexo é tão lindo quanto amar alguém do sexo oposto.
Defenda o que você acredita, e tenha orgulho por quem você é. Sou menina, falo palavrão, não uso salto alto, não uso maquiagem, falo gírias, amo rock, jogo vídeo game,  tenho a mente poluída, odeio modinhas e não é por isso que deixo de ser menina.
Desculpa sociedade.
Por: Karina Lorena

4 comentários:

  1. Boa tarde, Rita!
    Obrigado pelas suas palavras simpáticas sobre o meu trabalho.
    Relativamente às suas perguntas, espero sair-me a contento.
    1. Você, como um português, se ressente de alguma maneira pelo "Português" das colônias terem se distanciado do "Português" de Portugal?
    O distanciamento nas formas de realizar uma língua falada por tanta gente, nos quatro cantos do mundo, é natural. Mais acentuado ao nível das pronúncias e do léxico, esse “afastamento” também se sente nas estruturas das frases, como é caso da colocação dos pronomes no Brasil em relação aos restantes países lusófonos. Mesmo em Portugal, que é um país pequeno, há pronúncias e palavras que variam em função das regiões. Encaro este fenómeno linguístico com muito interesse e sem qualquer ressentimento.
    2. Você acha que a língua falada no BRASIL ainda é o Português, ou já pode ser considerada como uma outra língua: o "Brasileiro"?
    Como a língua falada na Austrália, Canadá e Estados Unidos é, como na Inglaterra, o inglês, a língua falada no Brasil continua a ser o português. Aprendi em Linguística a designação “português do Brasil”, pois temos duas normas: a luso-afro-asiática e a brasileira.
    3. As línguas ao longo dos tempos são inevitavelmente modificadas, readaptadas pelos seus usuários, é dessa forma que elas continuam vivas. De que maneira você enxerga essas constantes mudanças?
    A língua, como organismo vivo que é, transforma-se e altera-se. Naturalmente, pelo uso, e por decreto, com as reformas ortográficas que vão sendo introduzidas, visando a sua simplificação, o que, apesar de 100 anos de polémicas, tem sido conseguido. Basta compararmos a forma como se escrevia até à Reforma Ortográfica de 1911 (implementada quase vinte anos mais tarde no Brasil) com a forma como escrevemos hoje.
    4. No Brasil existem maneiras próprias de falar em cada região do país. Você considera essas variações linguísticas legítimas ou a única que deve ter prestígio é a variante padrão da Língua Portuguesa?
    A ideia de impor a todos um padrão na oralidade não faz sentido para a Sociolinguística. Embora a forma de falar nalgumas regiões seja valorizada por alguns falantes (em Portugal, em Lisboa e Coimbra), a diversidade é uma riqueza. Já na língua escrita, a gramática não perdoa e é para todos.
    (CONTINUA)

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  2. (CONCLUSÃO DA RESPOSTA)
    5. Qual sua posição sobre o Novo Acordo Ortográfico?
    De início, pareceu-me uma boa ideia. Atualmente, conhecendo com detalhe o texto do Acordo e estando a aplicá-lo na minha escrita e na formação de professores, apercebo-me de vários pontos fracos em relação aos seus dois grandes objetivos: 1º Criar uma única norma para a regulamentação da língua;
    2º Simplificar a língua.
    Em relação à criação de uma única norma, basta conhecer o essencial das diferenças entre a norma brasileira e o português europeu para nos darmos conta de que tal objetivo é utópico. Poderá, quando muito, conseguir-se uma aproximação. Muitas diferenças irão manter-se e é natural que assim seja.
    Quanto à simplificação, fizeram-se avanços interessantes, mas podíamos ter ido mais além. Por outro lado, introduziram-se complicações desnecessárias em relação ao Acordo de 1945 (em Portugal) e ao Formulário de 1943 (no Brasil). É o caso dos pontos cardeais e colaterais com a noção de “empregados absolutamente” (que ninguém sabe muito bem o que significa).
    Sou um divulgador crítico do Novo Acordo (com o blogue http://acordo-ortografico.blogspot.com) e entendo que se deve aproveitar o facto de o Brasil ter alargado o prazo de transição até janeiro de 2016 para aperfeiçoar o texto e criar o prometido Vocabulário Comum.
    Principal inconveniente do Acordo: a divisão que tem originado entre os académicos e os falantes em geral, muitas vezes mais com a paixão que as convicções pessoais alimentam do que com argumentos intelectualmente honestos.
    Principal vantagem: a sistematização e simplificação do uso do hífen. Embora possa e deva ser aperfeiçoado, é um trabalho que merece a minha aprovação.
    E está dito! Procurei ser conciso, mas alonguei-me um pouco.

    Abraço luso.
    António Pereira
    P.s. Já sou membro do seu blogue (sou a AP).

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  3. Olá, mais uma vez!
    As respostas que lhe dei refletem apenas o que penso. Por princípio, estou aberto à mudança. Para mim, o essencial no respeito pela língua é fazer dela o que deve ser: um veículo de comunicação eficaz. Logo, devemos ser leitores treinados e críticos (não apenas de jornais e revistas, mas também da riquíssima literatura lusófona) e escrever de forma clara e organizada. Dessa forma, mostramos o nosso amor pela língua. Quanto à ortografia, é apenas uma convenção. "Aflito" já foi "aflicto"; "ideia" já foi "idéia"; o "sozinho" de hoje... aprendi-o como "sozinho" no liceu; e até "sapato" já teve este aspeto chocante: "çapato"!
    No entanto, embora não disponha de dados estatísticos, parece-me que a maior parte dos falantes portugueses são contra o Novo Acordo.
    Abraço e bom fim de semana!
    António Pereira

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  4. Queria dizer: "o "sozinho" de hoje... aprendi-o como "sòzinho" no liceu;

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