Os professores costumam reclamar do excesso de "internetês" nas redações dos alunos, mas também afirmam que não existe variação linguística menos válida que outra.
Então que postura os educadores devem adotar diante dessas influências da tecnologia: aceitar, rejeitar?
A seguir veja o resumo de um artigo de divulgação científica de Maurício Guilherme Silva Jr. e Virgínia Fonseca, retirada de revista Minas Faz Ciência, set/nov de 2012, pag. 6 à 11, que trata desse tema.
Pesquisas
revelam equívoco nas estimativas do senso comum: a escrita informal dos jovens
nas mídias sociais _ e outros ambientes da comunicação contemporânea_ pode ser
benéfica ao aprendizado
A linguagem utilizada em
ambientes virtuais de comunicação trata-se de um modo de expressão cada vez
mais frequente, facilmente encontrado em situações comunicativas engendradas
por jovens com o auxílio de objetos hoje cotidianos (e essenciais), como
celulares e computadores, desde que conectados á internet.
Em nome da agilidade na troca de
informações os usuários lançam mão de artimanhas como abreviaturas, gírias e
símbolos, além de uma série de onomatopeias. Até que ponto, porém, essa dinâmica
seria capaz de influenciar a qualidade da escrita dos estudantes?
“Isso pode, sim, influenciar o
aprendizado da língua culta, mas acredito que para o bem. Quanto mais se
escreve, mais se aprende a escrever. Quanto mais recursos linguísticos são
explorados, mais ricos ficam os textos”, destaca a professora da Faculdade de
Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, Carla Viana Coscarelli.
Para a diretora de Divulgação
Científica da Pró-Reitoria de Extensão da UFMG, Silvana Sousa do Nascimento
“Hoje, a questão é que o professor, por vezes não nativo nessas tecnologias,
deve conseguir ajudar o aluno a transitar entre o lugar em que ele está e a
posição de reconhecimento da norma culta, dos diversos contextos, das
linguagens _ que sempre serão múltiplas”.
Neste cenário, pode-se afirmar
que a linguagem empregada depende da situação de comunicação instaurada _ ou,
em outros termos, dos objetivos dos interlocutores, assim como do grau de
familiaridade entre eles. Da mesma forma, é preciso considerar a capacidade do
destinatário interpretar corretamente a mensagem emitida.
Segundo Coscarelli, “Os usuários
mudam _ ou deveriam fazê-lo_ sua maneira de se expressar em várias situações.
Nos bate-papos, escreve-se de um jeito; já no e-mail de trabalho, o formato
costuma ser bem diferente”.
Segundo o Professor do
Departamento de Linguagem e Tecnologia, Jerônimo Coura Sobrinho a escola, às
vezes, insiste em ensinar um registro utilizado apenas em contextos
específicos, o que acaba por desestimular o aluno, que não vê sentido em
empregar tal modelo em outras situações.
No entanto, a professora Silvana
Nascimento ressalta que as pessoas precisam ter discernimento quanto às
distintas situações, de modo a dominar outros códigos.
O papel da escola seria,
justamente, mediar tal contextualização. Segundo os pesquisadores, isso pode
ser feito por meio do uso, no ambiente escolar, das próprias tecnologias
comunicativas.
Para a docente dos cursos de
Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e do
Centro Universitário de Belo Horizonte, Lorena Peret Teixeira Tárcia, o atual
contexto trouxe à tona uma realidade anterior aos computadores: o analfabetismo
funcional e a da dificuldade de expressão de crianças, adolescentes e adultos
formados ou em processo de formação. Em sua experiência com crianças e
adolescentes, a pesquisadora percebe que aqueles que possuem base educacional
consistente sabem se posicionar nas mais diversas circunstâncias
comunicacionais: tais jovens escrevem bem quando o momento é formal, assim como
absorvem conteúdos e se integram de forma criativa nas situações de
informalidade. Entretanto, quando a formação educacional do jovem não é sólida,
as fragilidades se revelam nas redes.
Os estudiosos são unânimes em tratar
as novas tecnologias como ferramentas a serem usadas a favor do processo de
aprendizagem. Contudo, se não houver propósito coerente com o projeto
pedagógico, a tecnologia, de maneira abrangente, não representará um
diferencial significativo. A instituição precisa se envolver nesta cultura,
assim com deve incentivar a comunicação acadêmica.
A pesquisadora Lorena Tárcia
afirma que “Os estudantes se entusiasmam, tornam-se parceiros dos professores,
que nem sempre dominam aspectos técnicos, mas dominam a construção do conhecimento
e trabalham juntos neste propósito”.
Ainda existe muita resistência
dos professores em adotar as ferramentas tecnológicas como recurso pedagógico,
mas é certo que diferentes formas de aprendizagem ampliam o repertório cognitivo
dos educandos. O uso de áudio, vídeo, hiper-texto ou infografia permite que os
alunos percebam o mundo a partir de parâmetros diferenciados. “Esta vivência enriquece
até a escrita deles, pois expande sua capacidade de compreensão e reflexão sobre
o mundo e a realidade em que inserem”, afirma Lorena.
Olá.
ResponderExcluirPostagem divulgada no Portal Teia.
Sempre com ótimas postagens ,parabéns.
Até mais
Portal Teia sempre apoiando o blog i-Rita.
ResponderExcluirMuito obrigada!
É um problema bem complexo esse negócio. Lutar contra a maré é quase impossível, aliás, por incrível que pareça, noto que os adolescentes veem como "brega" o ato de escrever sempre corretamente. Mas um educador nunca poderá ver isso como normal.
ResponderExcluirAntigamente o ditado era: "A mãe educa e a avó deseduca". Agora podemos trocar mãe e avó por professor e internet, respectivamente...
Gostei do seu blog Rita, foi uma grata surpresa ver que também era uma educadora.