sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Receita de Ano Novo - Carlos Drummond de Andrade



Reflexão sobre o Ano Novo


O fim do ano é uma época de comemoração de festa. Um momento para relaxar e deixar um pouco de lado as preocupações e responsabilidades. É como se fosse um prêmio que cada um dá a si mesmo como gratificação por todo o esforço, todo trabalho realizado ao longo do ano.
Mas o fim do ano é também um momento para se refletir sobre o que passou, contabilizar os ganhos e perdas, os ônus e os bônus. Estabelecer novas metas, novos objetivos, sonhar novos sonhos. Ter novas esperanças, esperar por mudanças.
Contudo esse desejo de mudança parece estar vinculado a algo exterior ao homem. É como se o homem atribuísse a força para promover essas mudanças ao novo ano, à mudança do tempo, do calendário. “O ano muda as coisas mudam”.
Parecemos não enxergar, ou não querer aceitar, que as mudanças em nossas vidas só ocorrerão se nós nos movimentarmos para isso, se começarmos a transformação internamente, mudando nossas posturas, hábitos, formas de ver e agir diante do mundo.
Sobre isso Carlos Drummond de Andrade escreveu um belíssimo poema intitulado “Receita de ano novo”. Veja essa reflexão a seguir.


Receita de Ano Novo
                                             Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas

(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,

se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar

que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.




Um comentário:

  1. Feliz Ano Novo!!
    Que 2013 seja um ano cheio de realizações!!
    Gostei muito da "decoração" do blog.
    Parabéns!!!
    E belo poema do CARLOS D. DE ANDRADE.

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