A Professora de Desenho
Marcelo Coelho
Falando a verdade, escola é uma
chatice. Pelo menos a minha era uma chatice. Essa história de aprender tabuada,
fazer prova, lição de casa... Eu não gostava. Ficava feliz quando aparecia uma
gripe. Existe coisa melhor? Eu juntava todos os brinquedos em cima da cama.
Traziam revistinhas. Chocolates. Televisão no quarto. Era ótimo.
Disse que a escola era muito chata,
mas esqueci de uma coisa: as aulas de desenho. Essas eram legais.
Toda sexta-feira, depois do recreio,
a dona Marisa _ (naquele tempo a gente não chamava a professora de
"tia", nem usava só o nome dela, sem nada, assim: "Marisa";
tinha de ser "dona Marisa") _ enfim, a dona Marisa saía da sala, e entrava
a professora de desenho. A dona Andréia.
A dona Marisa era meio gorducha,
usava coque no cabelo e se pintava feito louca. Batom. Sombra azul nos olhos.
Meio perua. Eu não gostava da dona Marisa.
Mas aí entrava a professora de
desenho. A dona Andréia era mocinha. Tinha cabelos castanhos. Lisos e
compridos.
A aula de desenho era uma farra. A
gente abria os cadernos, que não tinham linhas, só folhas de papel em branco,
para a gente fazer o que quisesse. Podia. Dona Andréia deixava.
Ela era linda.
Ela era linda.
Um dia, ela se atrasou. O tempo ia
passando, e ela não chegava. Todo mundo estava louco para ter aula de desenho.
Por que será que ela estava atrasada?
Nessa idade, a gente sabe muito
pouco da vida dos adultos. Talvez a dona Andréia tivesse brigado com o
namorado. Pode ser que o diretor da escola tivesse dado uma bronca nela. Vai
ver que tinha alguém doente na família.
Mas a gente não queria saber de
nada. Só queria ter aula de desenho.
Foi quando a dona Andréia apareceu.
Todos nós ficamos contentes. Não foi só contente. Foi uma espécie de alegria
total, de gritaria, de explosão.
Ela entrou na classe. Alguém gritou:
_ É a Andréia!
Não era o jeito certo de falar.
Tinha de dizer "dona Andréia". Mas àquela altura ninguém estava
ligando. Todo mundo começou a gritar:
_ É a Andréia! É a Andréia!
O berreiro foi ganhando ritmo. Como
se fosse torcida de futebol.
_ AN-DRÉ-IA! AN-DRÉ-IA!
Parecia um jogador entrando em campo. Ou um cantor de
rock.
_ AN-DRÉ-IA! AN-DRÉ-IA!
Ela começou ficando alegre com a
zoeira. Deu um sorriso. O sorriso dela era lindo.
_ AN-DRÉ-IA!
Depois, ela ficou um pouco
assustada. Não estava entendendo a bagunça.
_ AN-DRÉ-IA!
Foi então que eu vi. Ela começou a
chorar. E saiu da sala.
Na hora, não entendi. Fiquei
pensando. Quem sabe ela se assustou muito. Talvez não imaginasse que a gente
gostava tanto dela. E, às vezes, muito amor assusta as pessoas.
Pode ser que ela tivesse ficado
brava. Tínhamos de dizer "dona Andréia", e não dissemos. Era meio
chocante só dizer "Andréia", como se ela fosse irmã da gente, ou
apresentadora de televisão, ou empregada.
Ela também pode ter chorado por
outro motivo qualquer. Estava triste com o namorado, ou com alguma doença da
família, e toda aquela alegria da gente atrapalhando os sentimentos dela.
A Andréia nunca mais voltou.
As aulas de desenho acabaram.
Comecei a perceber uma coisa. É que às vezes, quando a gente gosta demais de
uma pessoa, não dá certo. Dá uma bobeira na gente. A gente começa a gritar:
_Andréia! Andréia!
E a Andréia fica sem jeito. Não sabe
o que fazer. Se assusta. Se enche.
Ouça este conselho.
Se você gosta muito de alguém, tome
cuidado antes de fazer escândalo. Não fique gritando "Andréia!
Andréia!". Finja que você só está achando a pessoa legal, nada mais. Senão
a Andréia sai correndo.
Quando a gente gosta de alguém, tem
de fazer como sorvete. Dá uma mordidinha. Mas não enfia o nariz e a boca na
massa de morango. Senão, vão achar que a gente é idiota.
As pessoas da minha classe gostavam
tanto da Andréia, que ela foi embora. Se a gente fosse mais esperto fingia que
não gostava tanto.
Não
sou pretenciosa a ponto de achar que chegaria na sala de aula e seria
ovacionada pelos alunos (Rita! Rita!), mas dado o carinho que sei que
meus alunos (ou a maioria deles, pelo menos) têm por mim e eu por eles, é
mais ou menos como a professora dessa história que eu me sinto.
Se eu pudesse escolher, ficaria exatamente como estava até agora, mas por motivos de força maior, sou obrigada a mudar: de turmas, de rotina.
Não
estou triste, porque agora terei estabilidade profissional e
financeira, era o que eu queria desde que prestei o concurso (uma longa
história). Mas estou com uma lagrimazinha no coração por ter que deixar
os meus alunos, meus meninos e meninas, meus amigos.
Chega
de drama, gente. Drama é para os fracos...rsrsrs... Me despeço agora
com um "Falou, moçada", porque isso não será de forma alguma um
"Adeus".
A gente se encontra na escola, no Face, na vida...
Esquenta a cabeça não. Relaxa. Está tudo sob controle. Graças a Deus.
vamos sentir muita falda d vc dona rita .. vc vai fazer muita falta..
ResponderExcluirass:kelle
Rita!
ResponderExcluirSaiba que vou sentir muita saudade de você! Por que além de uma ecelente professora, por mais que alguns alunos descorde, você é uma ecelente amiga! Pois você me deu varios concelos e sei la isso me ajudou muito! Você pra mim e tipo a "Dona Andreia",por mais que nao demostramos isso. E sabe mesmo assim a nossa "Dona Andreia" resolvel nos deixar!
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"Pense nos momentos felizes,
E saiba que eles dependeram de voce.
Nao chore ao velos terminados,
Mais sorria a saber que eles existiram.
Pois na vida tudo passa,
Mais sempre deixa um tanto suficiente,
Para sentir saudades!
Ate qualquer hora!
Gostei bastante do post. E acho interessantíssimo o carinho que você demonstra por seus pequenos.
ResponderExcluirUm abraço!!
Boa sorte!!!