segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Crônica: O segredo do sucesso - Cybele Meyer



 Estive procurando alguns vídeos no Youtube sobre “o primeiro dia de aula”. O que encontrei foram apenas depoimentos de alunos, mas não consegui encontrar nenhum depoimento de professor. Será que para nós é sempre fácil o primeiro dia? Nunca temos medo?
Então encontrei a crônica a seguir que fala sobre o primeiro dia de aula de uma professora substituta.

O sucesso da Mala

 

Por Cybele Meyer

Respiro ofegante. Trago nas mãos uma pequena mala e uma agenda tinindo de nova. É meu primeiro dia de aula. Venho substituir uma professora que teve que se ausentar “por motivo de força maior”. Entro timidamente na sala dos professores e sou encarada por todos. Uma das colegas, tentando me deixar mais à vontade, pergunta: _ É você que veio substituir a Edith? _ Sim – respondo num fio de voz. 
_ Fala forte, querida, caso contrário vai ser tragada pelos alunos – e morre de rir. 
_Ela nem imagina o que a espera, não é mesmo? – e a equipe toda se diverte com a minha cara. 

Convidada a me sentar, aceito para não parecer antipática. Eles continuam a conversar como se eu não estivesse ali. Até que, finalmente, toca o sinal. É hora de começar a aula. Pego meu material e percebo que me olham curiosos para saber o que tenho dentro da mala. Antes que me perguntem, acelero o passo e sigo para a sala de aula. Entro e vejo um montão de olhinhos curiosos a me analisar que, em seguida, se voltam para a maleta. Eu a coloco em cima da mesa e a abro sem deixar que vejam o que há lá dentro. 
_ O que tem aí, professora? 
_ Em breve vocês saberão. 
No fim do dia, fecho a mala, junto minhas coisas e saio. No dia seguinte, me comporto da mesma maneira, e no outro e no noutro… As aulas correm bem e sinto que conquistei a classe, que participa com muito interesse. Os professores já não me encaram. A mala, porém, continua sendo alvo de olhares curiosos. 
Chego à escola no meu último dia de aula. A titular da turma voltará na semana seguinte. Na sala dos professores ouço a pergunta guardada há tantos dias: 
_ Afinal, o que você guarda de tão mágico dentro dessa mala que conseguiu modificar a sala em tão pouco tempo? 
_ Podem olhar – respondo, abrindo o fecho. 
_ Mas não tem nada aí! – comentam. 
_ O essencial é invisível aos olhos. Aqui guardo o meu melhor. 
Todos ficam me olhando. Parecem estar pensando no que eu disse. Pego meu material, me despeço e saio.

É comum ouvirmos no ambiente escolar comentários sobre a ineficiência da educação no Brasil. Quase sempre o que se ouve é a busca de culpados: os professores despreparados e desatualizados, os alunos indisciplinados e desinteressados, os pais omissos, o sistema que só quer números.
Quase nunca ouve-se alguém apontando soluções e, mais raramente ainda, alguém admitindo sua parcela de culpa.
Para mim, em qualquer circunstância é possível aprender, talvez não tanto quanto se esperava, mas sempre é possível adquirir algum aprendizado seja onde e como for, desde que haja compromisso.
Então, como vimos na mensagem passada pela crônica de Cybele Meyer, é preciso que cada um faça seu melhor sempre.

3 comentários:

  1. Muita coisa tem ser feita pra ontem, no sistema educacional das escolas, bem no interior de cada uma delas, principalmente com os educadores, pois como disse Jean Piaget “O principal objectivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas, que sejam criadores, inventores e descobridores e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram.” Isso serve para os professores recém-formados, os já formados e atuantes há bastante tempo, e os futuros professores. Pois como ainda disse Jean Piaget “O professor não ensina, mas arranja meios de a própria criança descobrir. Cria situações-problemas” Ao me ver, o educador atrai a criança para aprender, faz com a vida escolar da criança se torne a cada dia uma surpresa de aprendizado na vida de cada um deles. E todos os educadores antes de entrarem em sala de aula ou na direção de uma escola deveriam ter as frases já citadas e essa em especial em seu coração e mente. “Quando olho uma criança ela me inspira dois sentimentos, ternura pelo que é, e respeito pelo que posso ser.”
    Jean Piaget

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    1. Obrigada pela visita e pelo riquíssimo comentário. Eu acho que nós professores deveríamos parar para pensar porque nos tornamos professores. Parece que ao longo do caminho, tortuoso e cheio de pedras, acabamos esquecendo do que vc citou no seu comentário: “O professor não ensina, mas arranja meios de a própria criança descobrir. Cria situações-problema".

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    2. Por isso que eu gostei de você como educadora, pois vi em você todos os requisitos que Jean Piaget escreveu: "O principal objectivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas, que sejam criadores, inventores e descobridores e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram.” E você educadora Rita é uma dessas pessoas.

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